Por Alessandra Samadello.
Demorei pra escrever dessa vez.
Um pouco de falta de tempo, um pouco de falta de idéia. Esse negócio de idéia é
bem louco. As coisas surgem de dentro dessa caixa chamada mente, caixa de
Pandora, cérebro de Deus. Quantas culturas o homem não cria para ter noção de
sua existência. Temos que tocar para ser real. Temos que sentir para acreditar.
Temos que ver para suportar; pois o invisível nos amedronta de tal forma que
não podemos continuar. Todos temos um pouco de Tomé. Eu, particularmente, tenho
MUITO de Tomé. Se pela tendência ao controle eu não sei, mas preciso ver para
crer; e ver me torna pequena diante do invisível que me amedronta. Ao mesmo
tempo sou seduzida pela idéia da fé que luta com minha mente e meu corpo, pois
mesmo sendo invisível, me é quase palpável, quando literalmente a sinto em
minhas experiências diárias. Sendo assim, reconheço que o invisível é maior do
que eu.
Essa idéia do ver para crer é tão
falsa quanto a noção que temos de nós mesmos. Se nos sentimos mais ou nos
sentimos menos do que realmente somos, nos encaixotamos, nos limitamos, nos
aprisionamos. Seria mais sábio abrir os nossos braços, relaxar o nosso corpo,
abrir a nossa mente e no silêncio dar espaço a imensidão e grandiosidade desse
ser que Deus criou e que insiste em ser menor do que realmente foi criado para
ser. Receba o poder que lhe é devido. E o poder vem com a espera, com a
“paciência de agir”, de caminhar em direção a Deus.
A caixa de pandora, hoje
expressão muito usada para demonstrar algo turbulento ou emocionalmente
explosivo, nada mais é do que uma lenda grega que, na minha opinião, descreve a
impulsividade e a curiosidade humanas, que acabam por estragar uma fruta verde
que com paciência poderia ser deliciosamente saboreada.
A lenda diz que Pandora foi uma
deusa criada por Hefesto e Atena com a permissão de Zeus. Cada um deles,
com a ajuda de outros deuses, lhe deram qualidades como graça, beleza,
persuasão, inteligência, paciência, meiguice e dança; mas um desses deuses
colocou traição e mentira em seu coração. Enviada à espécie humana, casou-se
com Epitemeu, que em seu poder tinha uma caixa que continha todos os males. Ele
disse a Pandora que não abrisse a caixa, mas sua curiosidade foi maior, e
abrindo-a, quase todos os males escaparam. Por mais depressa que ela tentasse
fechá-la, somente conservou um único bem: a esperança. Na tradução grega
original, esperança não significa a espera positiva de algo que queremos que
aconteça. Mas é simplesmente a espera pura, a paciência, o estado de
expectativa de algo que pode acontecer a qualquer momento; seja bom ou ruim.
Nos entregarmos à idéia dessa
lenda é sermos tratados como bonecos que sem nenhuma orientação são jogados pra
lá e pra cá. Quem me chamou a atenção para este tema da paciência foi meu pai,
que no tic-tac do relógio espera “agindo”. Estou pra conhecer alguém que toma
as rédias da sua vida tão bem, esperando pelo próximo minuto. E o que vem, ao
invés de derrubá-lo, acaba sendo um obstáculo a vencer. E quando vencido, causa
admiração a si mesmo e a quem o rodeia.
É esperar para agir, para lutar,
para, se Deus quiser, vencer. Vencer é viver. Por mais quanto tempo? Não sei.
Na realidade, não importa, pois nesse momento, a caixa de Pandora é substituída
pela caixa de Deus, pela caixa da fé, pela caixa do controle de um ser que
reconhece que viver, mesmo sendo muitas vezes dificilmente suportável, ainda vê
na vida um sentido: o sentido da busca do mistério que o segura vivo, pelas
filhas, pelos netos, por si mesmo, pelo fôlego que foi dado a Adão e que também
é seu.
Paciência é agir em direção à
espera da conquista. Da vitória de não abrir a caixa de Pandora, pois é fora da
caixa que estão desafios ainda maiores. O de crer, o de amar, o de viver e
sobreviver aos males quase infindos que nos assolam. Mas está terminando!
Estamos quase lá!! Pro meu pai, pra mim ou pra você, resta a ação de agir em
direção a espera do eterno. E isso começa com a esperança que agora tem o
sentido da fé. Siga em frente!!